quarta-feira, 19 de outubro de 2011

meu copo está seco, logo eu também



bebe menino, porque a tristeza está fora do copo.
sonha rapaz, porque o ideal fantasiado é só o que é real.
quem brinca de bola é garoto,
quem caminha sobre o mundo é mendigo
e quem sabe tem!

Sonhos são desejos ainda não alcançados,
disse o homem antes das asas de ferro,
"sonhei que ainda estava com ela",
disse o homem comum, antes de beber mais um copo.
Pois quem pode tem e quem não tem somos todos nós.
"eu quero mais, eu quero tudo e mais o que você tem",
pensa um garoto esforçado que deseja o suor da terra.

tudo é capital, proteger o meio ambiente também é capital,
o sonhar já não é mais natural
e criar apenas por criar é reprovável.
"eu quero o mais doce mel
da mais doce flor"
foi-se o poeta, que venha o rico,
objetivamente seco, mas de doce luxo.
naturalizou-se o horror.

E as tradições são meios de sobrevivência.

"o que você faz da vida?"
"sou operador de maquinário industrial especializado na fabricação de pontas de lápis,
mas escrever é o que eu mais gosto de fazer".
"eu quero dinheiro", dizem os heróis vis.

Até doar é ato de egoismo, desejei que não fosse, uma vez.
Substituímos o doce rancor das virtudes
inalcançáveis,
pela a norma jurídica fundamental e o papel dinheiro.
A liberdade tem cheiro
e fede a "coisa" morta.

Mas eu sou feliz enquanto eu gasto,
enquanto eu como torta,
enquanto eu tenho.
"e quando não se tem?"
"feliz é o pobre que se preocupa com pouco"
"a vida do rico é ruim, vazia"
diz o rico, cheio de bebida e comida.
"meu copo está seco,
logo eu também".

joão sonha seguir o arco-iris,
mas tem medo de alcançar a ponta,
por causa do dinheiro, pois não saberia o que fazer com o que conseguisse.
então este apenas sonha,
tentando imaginar o que faria,
se um dia alcança-se a ponta do arco-iris.