sexta-feira, 20 de agosto de 2010



rosas e luar, havia aqui um outro lugar,
mas se foi, aqui já não mais está.
neste jardim haviam rosas
e o mar era mais belo,
aqui havia boa prosa,
pois o homem empunhava menos o martelo.
hoje foi-se o sonhar,
o doce amar
apodreceu com as rosas.

haviam em todo o canto varios tipos de historias,
mas o vento levou,
as historias de roda se perderam no ar,
hoje há apenas o vinho sobre o luar,
a era dos contos se acabou.

sobrou os restos daquela doce era,
que era bela, que era bela.
sobrou o assovio dos passaros
e o canto antigo destes que relembra
a doce era que ainda perpassa por eles, aquilo que se passou,
aquilo da antiga brasa
que se apagou
e hoje é mero esquecimento.


terça-feira, 17 de agosto de 2010




olhos fechados, não desejo despertar,
mas todos devem... uma hora irão
despertar,
mas eu agora não desejo estar desperto,
estou imerso em uma doce escuridão,
cansado, comprimido por um lençol suado
reflexo de pesadelos que tive nesta mesma noite,
e ao meu redor apesar de ter a certeza de só,
ouço o entoar de canções as quais não compreendo ao menos uma parte
e ainda assim ouço com vigor cada tom, cada som.

ouço o cavalgar da minha razão que caminha em meio ao pó,
e resmunga a respeito de tempos bons,
então ouço o tropeçar antecipado de minhas insanidades,
rindo todas elas enquanto catam lírios e fazem trapaças
inocentes, sem consciência ou reflexão,
e então eu me deixo acordar ao som de gralhas,
que se reúnem em meu jardim em uma doce discussão.


sábado, 14 de agosto de 2010

o conto do bom rapaz,




todo dia antes do sol nascer
o bom rapaz levantava
e levava seu cavalo para passear,
pela areia caminhava
via o ar cantar e correr,
e antes do sol surgir o bom rapaz,
derramava duas gotas de sangue no mar,
o sol se levantava e dizia olá ao bom rapaz,
respondendo, o garoto:
"beba e lembre-se que aqui há apenas carne, e as coisas vem e vão"
subia o sol e o céu demonstrava-se vermelho-alaranjado,
este era o consentimento, esta era a aceitação.

O rapaz caminhava mais um pouco admirando a água do mar e retornava
de sua jornada. E a noite novamente ia ver o mar,
apenas ele toda noite, acompanhado de uma garrafa
sempre cheia de vinho, prostrava-se próximo da costa,
e fixava seu olhar no horizonte, apenas acompanhado das estrelas
e da lua, "tão belas",
até que na garrafa
haviam poucas gotas
e o bom rapaz deixava o mar
beber o que faltava,
por fim dizendo:
"pois hoje sou mais sóbrio que ontem e amanhã serei mais que hoje."


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

naufrago




eu vi... eu sei que vi!
uma gaivota estava ali,
sorriu para mim e partiu,
ela foi tornou-se nuvem,
tornou-se chuva e eu a vi cair,
partiu
para o interior das ranhuras que haviam no chão,
me sussurrou que era escuro e sem fim,
eu tentei alcança-la, mas não me senti bem.

lá só havia escuridão,
mas eu sei que a vi,
eu a vi cair,
mergulhar em solo rígido
e se acomodar em um labirinto
sem fim,
eu vi, eu vi, eu vi sim!

gaivotas ao céu,
mergulhei distante em mar brando,
procurei ao sul no mar e só havia lá areia,
retornei e me deliciei com a neblina em véu,
naufraguei mais uma vez... o casco
tornou-se apenas pedaços de madeira.

então mergulhei, pois as ondas não me deixavam
sorrir para o céu acima,
fui ao fundo enquanto me empurravam,
lá havia areia e lama

e a gaivota também estava lá,
ela sorriu beijou minha bochecha,
me disse que apenas queria dizer olá,
mas tinha vergonha.


sábado, 7 de agosto de 2010




dentes podres, mandíbula já não mais tão funcional,
manco e com o corpo em aparente decomposição.
essa é a historia de um andarilho meio vazio, meio antigo,
seu lugar mais amado era um mar de areia e sal
e por lá rastejava mais devagar saboreando a solidão,
tão apreciada (aparente) solidão, pois este era ciente do quão conturbado
são as eras e o seu amigo tempo
que tantas vezes o demonstrou ser capaz de desgastar os laços
e assim como ele condenado a vagar sem destino aparente,
sempre próximo, mas distante.

e já vazio desde a muito tempo, caminhando em conjunto
com seus pensamentos e sonhos,
que agora eram descompassados, apenas restos de eras
em que havia esperança
e valia para ele sentir,
valia muito mais que a areia esvoaçante sobre o céu,
e não era demasiado esforço sorrir
em meio ao por-do-sol, "doces eras passadas",
já não há mais o doce mel
antes apreciado, há apenas as caminhadas.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010




flocos de saudade,
eu vi senhores a doce liberdade
caminhar em meio a um mar de fogo e levantar sua saia,
mas não havia nada lá alem de mim,
a praia estava vazia
e o sol brilhava na marca do horizonte, próximo do infinito sem fim.

e lá estava liberdade, dançando distante...
longe de mim, enquanto eu olhava a saudade cair,
lentamente e se misturar a areia da praia. "que bela imagem".
fui tentando remontar aquilo que se desmanchava a minha frente.

ouvia antigos risos, gargalhadas e eu sorri
complacente, eram muito maravilhosas minhas antigas miragens...
mas era incapaz de relembra-las de todo,
e a liberdade tirava-me a calmaria e desmanchava sorrindo
minhas antigas construções sobre a areia.
maldita saudade, maldita liberdade, me fazem tão bem sendo tão diferentes,
...



...
ah... doce sereia,
doce mar azul, verde, vermelho,
não importa a cor ainda assim belo...
desejo mergulhar-me em ti estando preso,
amo-te
distante imerso em mar opaco.