segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

febre.



no céu da boca o mais doce mel
se espalha até o centro da garganta,
enquanto a alucinadora febre
se espalha sobre a pele fazendo-a queimar.

Delirios escorrem como um grosso véu
de lama sobre os olhos, a dançarina canta,
o canto se repete em uma agonia obscura, sente
quem vive e aflitamente tenta acordar.

Mas o delirio é real,
a criança que chora é real,
a moça que um dia esteve aqui é real,
mais real do que eu.

Pois eu sou a febre, uma companheira desleal,
o falso amor que te aquece, amor bestial.
caminhas sobre um campo opaco e o horizonte parece desigual,
sufoco-te sem esforço sobre a cama, seu mundo é meu.

em um vão escuro em plena queda,
ao meu lado, vejo uma cabeça de elefante
sobre o corpo de uma criança, e a chuva é verde
e as plantas são vermelhas.

acordo suado, confuso, preciso de água,
tenho medo de me levantar, mas o faço,
caminho descalço até a geladeira,
o chão parece feito de espinhos.

a água que provo tem gosto de sal,
a água da pia tem gosto de sal.
fora da casa uma chuva forte começa a cair.
mergulho na chuva de boca aberta.

O muro, as arvores, as portas e as janelas começam a se desfazer,
como se feitas de areia,
onde havia uma porta ou janela, agora há apenas parede,
e eu estou em pé sobre a chuva em um campo aberto

ao lado de uma casa sem portas, sinto uma mágoa,
minha pele ferve como brasa
e a chuva é como alcool sobre uma ferida.
sobre uma fogueira vejo uma mão esquentando o ferro.

as labaredas dançam,
e meu amor sorri para mim distante,
pois ela é neblina e eu não consigo me mover, sufocado,
sinto calor incessante.

e acordo.