segunda-feira, 29 de março de 2010



a impessoalidade... é o segredo,
sempre foi...
estou vivo... aqui
apenas por conta disto,
não há realidade,
nem pureza ou mesmo verdade.
há perspectivas,
a busca por vantagens...
tentativas
de fracasso, pois são entediantes as vantagens.

um mergulho em um mar de veneno
sob um barco naufragado,
feito de ferro...
o amigável é doce e apagado...
apático como a impessoalidade,
sob o racional...
transborda a imoralidade,
pois a fundo o que há é o cordial,
a irracionalidade justificada.

não há mais nada...
além do impessoal
que valha o esforço,
somos o esboço
de um fracassado natal.

- na tentativa de se viver esquecesse-se o que é certo, na tentativa de se fazer o certo esquecesse-se de viver. De qualquer forma saímos perdendo... não há vitória apenas a aceitação do fardo a ser carregado. -

doces ironias e reflexos da madrugada...

quarta-feira, 3 de março de 2010



um viajante procurava repouso...
por muitos lugares havia andado,
mas em nenhum destes havia gosto,
por ruas, cidades e vilas, caminhou... sem repouso,
estava farto da realidade que era a sua,
das dores em sua pele que ainda encontravam-se cruas...

E assim passava seus dias,
era nômade
e não restava em lugar algum por mais que três dias...
estava cansado... não suportava mais o compasso constante,
decidido.
em um pequeno lugar escolheu morar...
por ora lá era um bom lugar...
todos eram conhecidos,
se apresentavam amigos,
dóceis, com curtas presas,
tudo era simples, a vida era bela,
todos eram sutis, confidentes, amigos.

em um pequeno quarto decidiu morar...
de dia tudo que havia lá
era bom,
a melhor forma de se definir para ele o que tudo aquilo era... era bom...

por muitas noites dormiu bem...
sem medo, dormia bem...
e de pequenos sussurros as noite se encheram...
mal percebeu, mas vozes sobre as ruas, passos sobre as ruas, haviam...
mas este ignorava,
sua mente anestesiada estava...

mas com o passar do tempo este já não suportava,
olhava pela janela e não havia nada...
até que um dia se deu conta de que a vila murmurava...
as belas pessoas da vila, eram deformadas...
decrépitas... o sonho de tranquilidade
dava lugar a insegurança,
não haviam mais bondade,
rastejavam pela noite...
aquilo, aqueles que sobre o dia alegravam-lhe o peito,
sobre as ruas, como em açoite...
ao som de um frio e tenebroso vento.
desmascaravam-se estes seres.
tão belas mascaras obtiveram estes....

E o viajante já não suportava os falsos sorrisos...
os abraços, os afagos.
este deveria ir,
não suportava mais ficar,
desejava ir
e não mais voltar...
amaldiçoou o dia em que desejou tranquilidade...
foi-se e não mais retornou,
apagou-se o sonho de prosperidade...
foi em direção ao deserto e não mais voltou.







ópio diário...
afago tendencioso...
sobre o cansaço,
o infernal peso dos passos,
me refiz...

me reconstruí,
sobre as doces ruínas do que era,
do que me tornei após algumas eras...
...
....
respiro fundo...
e assim procuro em meu ser,
consistência, algo em que possa me ater,
mas tudo é novo... tudo...

dos passos...
retornei ao engatinhar,
estava cansado do rastejo, do caminhar...
fraco, sem real avanço.

meu corpo aparentemente é o mesmo.
pelo menos era não sei mais,
nada sei mais...
nada quero... nem espero.

minha memória era bela... mas está espaça...
tudo se esquece, o tempo apaga,
o ópio é o cotidiano,
esqueço o que passou, os sabores mundanos,
não me recordo mais do que gosto,
o que sou... estou reaprendendo,
tudo é novo.
e o passageiro...
parece me doce,
pois é só o que sei.