terça-feira, 5 de outubro de 2010




ouvi os vagões se encaixarem em um ato de puro companheirismo
e as primeiras peças se mexerem com um certo acanhamento,
e as primeiras pessoas a entrarem no vagão em meio a chamada final...
ah... doces lembranças de despedida e reencontros,
todas pequenas lembranças daqueles que conheci,
que vagaram comigo e sentaram ao meu lado,
sobre a janela vi lembranças antigas, meu passado leal
a estes trilhos que me parecem mais conhecidos e intransponíveis,
alem de gastos, sobre este vagão já escuro vejo-me disforme
e esquecido, submerso em meu passado ainda feliz,
ainda inocente, ainda criança insegura e sem consciência de tudo que fez.

e o vagão de carga é bem diferente dos outros em que já fiquei,
não sei se salto agora, mas não posso esperar até que alcance a próxima estação,
regresso meus olhos ao movimento das arvores e do trilho, sonhei,
estar em qualquer vagão,
será que há mais algum vagão em que poderia estar,
não sei, será que há mais algum vagão?
tenho medo de me perguntar se estou mesmo no trem,
e porque será que estou ou melhor como me deixei degradar,
como deixei envelhecer-me sobre o trilho, roldanas e nada mais alem
de carvão
que mal me permitem aquecer, pois sinto solidão.


"o trem" de Odival Quaresma Neto

Um comentário:

  1. Poucos temas são tão férteis para poemas quanto a realidade transitória de uma viagem de trem, ehehe... belo post cara!

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